Banville, Comunicação, Linguagem, Palavra

Sentido.

Ultimamente eu vinha tendo dificuldade de compreender as coisas mais simples que as pessoas me diziam, como se o que elas estivessem falando viesse numa forma de linguagem que não reconhecia; entendia as palavras, mas não conseguia juntá-las num sentido.

John Banville, Eclipse, trad. Celso Paciornik, Editora Globo.

Amizade, Aprendizado, conversa, Diálogos, Turguêniev

Fique.

– Mas o senhor vai partir? Porque não pode ficar, agora? Fique…conversar com o senhor me dá alegria…é como caminhar à beira de um abismo. Primeiro, intimida, mas depois, não se sabe de onde, vem uma coragem. Fique.

Ivan Turguêniev, Pais e Filhos, trad. de Rubens Figueiredo (Cosac)

Destino/Futuro, Existência, Tempo, Turguêniev

Existência.

O lugarzinho estreito que ocupo é tão minúsculo em comparação com o espaço onde eu não estou e onde as coisas não me dizem respeito; e a parcela de tempo que me foi dada para viver é tão ínfima ao lado da eternidade, onde não estive e nunca estarei… Mas neste átomo, neste ponto matemático, o sangue circula, o cérebro trabalha, também ele quer alguma coisa…

Ivan Turguêniev, Pais e Filhos, trad. de Rubens Figueiredo (Cosac)

Amor, Esperança & Otimismo, LydiaDavis, Relacionamentos

Bons momentos.

O que acontecia com eles era que cada mau momento produzia uma sensação ruim, que por sua vez levava a outros maus momentos, até que sua vida em comum ficou saturada de maus momentos, tão saturada que quase nada conseguia crescer naquela terra escura. Então, uma manhã, ela teve uma sensação de paz, remanescente da noite anterior, em que estava costurando na poltrona enquanto ele lia na sala. Um ou dois dias depois, ela teve de manhã uma sensação de contentamento, remanescente da noite anterior, em que ele lhe fazia companhia na cozinha enquanto ela lavava a louça do jantar. Se os bons momentos aumentassem, pensou ela, cada bom momento produziria uma sensação boa, que por sua vez produziria vários outros momentos, que também produziriam sensações boas. O que ela queria dizer com isso é que os bons momentos poderiam multiplicar-se talvez à proporção do quadrado do quadrado, ou mais rápido até, como ratos, ou como cogumelos brotando da noite para o dia dos esporos de outro cogumelo, que por sua vez também brotara da noite para o dia, junto com uma infinidade de outros cogumelos, de esporos dispersos, até que a vida dos dois ficasse tão saturada de bons momentos que os bons momentos expulsariam os maus, assim como os maus haviam expulsado os bons.

Lydia Davis, Tipos de Perturbação – Ficções, trad. Branca Vianna, Companhia das Letras

Beleza, Leitura, LydiaDavis

Leitura.

Às vezes fico lendo, aqui, à tarde, um ramo de murta na lapela, e algumas passagens do livro são tão belas que me convenço de que me tornei belo também.

Lydia Davis, Tipos de Perturbação – Ficções, trad. Branca Vianna, Companhia das Letras

Leitura, Livros, Vonnegut

Nunca desistam dos livros.

717H2q4VnwL

Nunca desistam dos livros. É tão bom segurá-los nas mãos – com seu peso agradável. A relutância doce das páginas, quando as viramos com as pontas dos dedos sensíveis.

Boa parte do nosso cérebro dedica-se a decidir se o que nossas mãos tocam é bom ou ruim para nós. Qualquer cérebro que valha um centavo sabe que os livros são bons para nós.

Kurt Vonnegut, O que tem de mais lindo do que isso?, Rádio Londres, trad. de Petê Rissatti.

 

Homens

Homens.

1_H7wae16ZQlNUFRaBKjQmMw

Os homens sempre têm alguma coisa de patético, em qualquer idade. Uma arrogância frágil, uma audácia pávida. Hoje, não sei mais dizer se alguma vez me suscitaram amor ou apenas uma afetuosa compreensão pelas suas fraquezas.

Elena Ferrante, A Filha Perdida, Intrínseca, trad. de Marcello Lino.

Comunicação

Antídoto.

As línguas, para mim, têm um veneno secreto que de vez em quando aflora e para o qual não há antídoto.

Elena Ferrante, A Filha Perdida, Intrínseca, trad. de Marcello Lino.

Aprendizado, Infância, Tempo

Infância.

Sempre sou pego de surpresa quando muda a estação. Isso é porque eu sou criança, e tudo demora mais para mim.

Howard Buten, Quando eu tinha cinco anos eu me matei, Rádio Londres, trad. de Alexandre Barbosa de Souza.

Amizade, Identidade, Relacionamentos

Vamos.

– Rudyard, tem alguma coisa errada comigo. Eu sou diferente de todo mundo.
– Eu também, Burt. Vamos.

Howard Buten, Quando eu tinha cinco anos eu me matei, Rádio Londres, trad. de Alexandre Barbosa de Souza.